não deixa de ser curioso que durante mais de um ano a minha vida se tenha direccionado para um dia e de repente, nem uma linha sobre ele...
o agora meu marido diz que tenho escrito pouco e que tem saudades de me ler. é querido o meu marido. sem modéstia, é o melhor.
explica-se por uma espécie de depressão pós-êxtase, misturada com o dia-a-dia atarefado e uma certa paixão pelo exclusivo.
agora sei que casar é diferente. não é definitivamente a mesma coisa: ah, já vivemos juntos há quase 5 anos - esqueçam! há um mês acordei mulher do Pedro e não foi só o meu nome que mudou.
mudou tudo.
Mafalda, nascida Rio, 31 anos, Porto.
Como naquele dia no mediterrâneo, quando não me apeteceu ter máquina para fotografar coisa alguma porque os meus olhos me sobravam de tanta beleza. foi assim. puro e simples como sempre imaginei. na riqueza extrema da palavra "puro", na nobreza suprema da palavra "simples"... foi como nos sonhos! foi de partilha, comunhão e quase mágico. ainda não sei dizer o que senti quando os vi a todos, juntos por nós, de felicidade empunhada para nos receber; de sorrisos abertos pelo desejo de que sejamos felizes. não consigo ir além do misticismo ao acreditar que não faltou ninguém, mesmo quem já só falta.
não consigo acreditar que a música do Bowie não tenha sido escrita para nós. e que bem que soube o Bowie! a presença engalanada de cada um, vestido e aprumado à sua maneira, todos cheios de si, e sem falhas. impecável. o discurso do Padre que pouco me conhece e me fala d'O Principezinho e dos laços - o principal motivo porque gosto de laços e os olhos cúmplices da Dani porque é ela que tem os cabelos de trigo! e o bolo cheio de laços. e as mesas cheias de laços... de outros laços. desses mesmo, os que importam.
uma pin-up que me conduziu num Jag. um motorista quase-russo num carro francês de rímel e papillon, the car not the driver. uma música de primas, uma história animada de amigos: tantas surpresas!
uma pin-up que me conduziu num Jag. um motorista quase-russo num carro francês de rímel e papillon, the car not the driver. uma música de primas, uma história animada de amigos: tantas surpresas!
é verdade que comecei a namorar ao som da Cinderela, numa idade em que já poucos se lembram do Carlos Paião e desconfiei desde esse segundo que a minha vida ia mudar...
é verdade que dançamos aquela valsa em casa, sem treinos, e às vezes nos chateamos e que caíram confetti - a do kubrick! nesse filme tão bizarro sobre a vida normal - é verdade que o Lou pôs Lou Reed e a vida toda se conjugou!
que fiz origami e os pus nas árvores. que pusemos amores perfeitos em frascos e nos lembramos de Shakespeare em "Sonho de uma Noite de Verão", naquela que foi a primeira do Outono. E houve balões brancos que levaram recados. e houve flores brancas - tantas - e houve bolas de sabão... e risos de crianças, que são tudo o que importa. E um girassol.
Foi perfeito porque foi imperfeito. E assim foi perfeito.
O que se seguiu foi o amor...
"We Are Absolute Beginners"
Comentários
É uma descrição perfeita de um dia de amor.E muda tudo. Como te compreendo, sim, muda tudo com o casamento. Porque é família, família que se escolhe. É o último gesto em que se completa o laço.