magma| fogo| lava| cinza

No Perú, perto de Arequipa, existe um Vulcão chamado Misti. A população habita as encostas do Vulcão sabendo que a qualquer momento o Misti pode entrar em erupção,.Nessa altura há que arrumar as trouxas, correr e rezar... não muito mais a fazer.
Viver cada dia como se fosse o último deve ser uma constante destes habitantes. Este imaginário poético do fugaz levou-me a pensar que se calhar, muitas vezes, aquilo que nos faz falta a nós, cidadãos da Velha Europa, é um Vulcão!
As notícias dos últimos dias têm-me feito pensar que se calhar não era bem isto. Mas que se calhar era mesmo isto. A Natureza é Mãe. É soberana. E às vezes gosta de dizer aos seus filhos que não passaram, ainda, da infância!

"O sexto planeta era um planeta dez vezes maior. Era habitado por um velho senhor de idade que escrevia livros muito grossos.
- Olha! Cá temos um explorador! - exclamou ele, quando avistou o principezinho.
O principezinho sentou-se em cima da mesa para tomar fôlego. Já viajara tanto!
- De onde vens tu? - perguntou-lhe o senhor de idade.
- Que livro é este, tão grande? - perguntou o principezinho. O senhor está aqui a fazer o quê?
- Sou um geógrafo - respondeu o senhor de idade.
- O que é um geógrafo?
- É um cientista que sabe onde ficam os mares, os rios, as cidades, as montanhas e os desertos.
- Que interessante! - disse o principezinho. Isto, sim, é uma profissão! E pôs-se a olhar à volta: nunca tinha visto um planeta tão majestoso.
- É bem bonito, o seu planeta. Tem algum mar?
- Não faço ideia - disse o geógrafo.
- Ah! - o principezinho ficou muito desiludido. E montanhas?
- Não faço ideia - respondeu o geógrafo.
- E cidades e rios e desertos?
- Também não faço ideia - respondeu o geógrafo.
- Mas o senhor é geógrafo!
- Pois sou, mas não sou explorador - disse o geógrafo. Tenho uma falta terrível de exploradores. Porque não é o geógrafo que há-de ir à procura de cidades, de rios, de montanhas, de mares, de oceanos e de desertos. O geógrafo é importante demais para andar a vadiar. O geógrafo nunca sai do gabinate. É no gabinate que recebe os exploradores. Faz-lhes perguntas e toma nota das respostas. E se aquilo que um lhe conta parece interessante, manda instaurar um inquérito à moralidade dele.
- Porquê?
- Porque um explorador mentiroso desencadeava autênticas catástrofes nos livros de geografia. E um explorador bêbado também.
- Mas porquê? - perguntou o principezinho.
- Porque os bêbados vêem a dobrar e o geógrafo podia assinalar a existência de duas montanhas, quando, na realidade, só havia uma.
- Conheço uma pessoa que dava um péssimo explorador - disse então o principezinho.
- É possível. Mas continuando: quando os costumes do explorador parecem bons, então instaura-se um inquérito à descoberta dele.
- Vão ao sítio verificar?
- Não, era complicado de mais. Exige-se é ao explorador que apresente provas. Por exemplo, se ele tiver descoberto uma montanha enorme, exige-se-lhe que traga de lá uns calhaus enormes.
De repente o geógrafo ficou todo emocionado.
- Mas tu, tu vieste de muito longe! És um explorador! Anda, descreve-me o teu planeta!
E o geógrafo, depois de abrir o livro de registos, pôs-se a afiar o lápis. As descobertas dos exploradores são primeiro anotadas a lápis. Só são passadas a tinta depois de o explorador apresentar provas.
- Então, quando é que começas? - perguntou o geógrafo.
- Oh! Lá, onde eu vivo, não há grande coisa. É um sítio muito pequenino. Tenho três vulcões. Dois vulcões em actividade e um vulcão extinto. Mas nunca se sabe...
- Pois não, nunca se sabe... - disse o geógrafo.
- E tenho uma flor.
- As flores, não as assinalamos - disse o geógrafo.
- Porquê? É o mais bonito de tudo!
- Porque as flores são efémeras.
- E "efémero" quer dizer o quê?
- As geografias - disse o geógrafo - são os livros mais preciosos que há. Nunca passam de moda. É raríssimo que uma montanha mude de lugar. É raríssimo que um oceano se esvazie. Nós só escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem despertar - interrompeu o principezinho. E"efémero" quer dizer o quê?
- Para nós os vulcões estarem extintos ou em actividade é exactamente a mesma coisa. Para nós o que conta é a montanha. Essa não muda.
- Mas "efémero" quer dizer o quê? - repetiu o principezinho que, sempre que fizera uma pergunta, nunca em dias da sua vida desistira dela.
- Quer dizer que "está ameaçado de desaparição a curto prazo".
- Então a minha flor está "ameaçada de desaparição a curto prazo"?
- Evidentemente!
"A minha flor é efémera", pensou o principezinho, "e só tem quatro espinhos para se defender do mundo inteiro! E eu deixei-a lá sozinha!"
Pela primeira vez arrependeu-se de ter partido. Mas logo recobrou ânimo:
- E agora o que me aconselha a visitar?
- O planeta Terra - respondeu o geógrafo. É um planeta com boa reputação...
E o principezinho foi-se embora, sempre a pensar na flor."
Antoine de Saint-Exupéry, "O Principezinho"

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