Cliché Noël


Querido Pai Natal,
Agradeço, do fundo do coração, o presente de Natal antecipado. Pedi com muita força e, como sempre, quando se quer muito, as coisas acontecem.
Embora tenha as minhas dúvidas - e fortes - quanto a saber o quanto gosto desta época, chego sempre à conclusão que por mais triste, por mais longe que esteja dos meus anseios, é sempre melhor andar por cá a ver as luzes, as estrelinhas e a aguardar milagres de Natal... é que há sempre uma frase, um momento, que vale por todos.
Da minha lista de presentes só faz parte um pedido. Desses pedidos grandes, imensos, quase impossíveis de elaborar sozinha e para os quais uma ajuda é sempre bem-vinda... Não quero mais nada! Não quero mesmo mais nada...
Um dia - há muito tempo - quando procurava um disco cá em casa, descobri o presente de Natal que a minha mãe deu ao meu pai no Natal de 1981. Foi o primeiro Natal deles, foi o meu primeiro Natal. A minha mãe escreveu "ama-me todos os Natais das nossas vidas".
Este é o meu 25.º Natal. E é o meu único desejo. Ama-me todos os Natais das nossa vidas. Certa de que todos serão Natais Felizes.
Aos meus amigos,
Ladainha dos póstumos Natais
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira

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